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Aplicativos podem ser aliados no tratamento de câncer?

 Com um mundo cada vez mais conectado, não é difícil imaginar as possibilidades para pacientes que tenham o diagnóstico de câncer. Informação acessível com uma equipe de saúde em tempo real, fontes de conteúdo, aplicativos para gerenciar medicamentos e sintomas são algumas das possibilidades que a internet e os smartphones trouxeram. Mas isso realmente funciona? Como é possível colocar essas ferramentas à disposição dos pacientes?

Você no controle do seu tratamento

O princípio básico destas ferramentas é capturar diretamente do paciente as informações necessárias para ajudá-lo no tratamento. Por exemplo, queixas e sintomas. Parece básico, mas você já reparou que não é você mesmo que escreve no seu prontuário médico, e sim a equipe da saúde? Isso quer dizer que a informação que você relata em uma consulta médica é ouvida e colocada no sistema (seja papel ou computador) pelo próprio médico e, que neste processo, podem acontecer erros de interpretação, quase como a antiga brincadeira do "telefone sem fio".

Um exemplo é quanto a relatos de dor: imagine que você vá a uma consulta e diga que está sentindo uma dor forte, relatando para o médico na seguinte expressão: "Sinto uma dor e pontada na cabeça, de vez em quando".

Você vai ser questionado da frequência da dor e, principalmente, sobre a intensidade dela. Isso leva a dois problemas:

  1. Como faz tempo que você não sente a dor, talvez não se lembre da real intensidade e do número exato de vezes que a sentiu no último mês ou última semana;
  2. Dependendo da maneira como se expressar, o médico pode interpretar que aquela dor foi mais forte ou mais fraca do que você realmente sentiu.

Isso pode gerar situações como, por exemplo, falha na investigação sobre a causa dos sintomas - e possíveis confusões no diagnóstico e tratamento - ou até mesmo indicação de tratamentos inadequados pela falha de comunicação - como o uso de remédios fortes demais para dores pouco intensas ou vice-versa.

Portanto, não seria ideal que você pudesse anotar a frequência e intensidade da dor e isso fosse colocado diretamente no prontuário? Melhor ainda: e se esse diário estivesse disponível para você a qualquer momento? Esse é o princípio dos chamados ePROS (electronic patient reported outcome), traduzindo: suas queixas sendo anotadas por você mesmo, em tempo real, por meios dispositivos conectados.

O que meus registros podem fazer por mim?

Bom, primeiro vamos entender que tipo de tecnologias estamos falando. O mais comum é que sejam por formato de aplicativos. Essas ferramentas permitem que você clique em sintomas específicos e escolha a intensidade, deixando anotado para mostrar ao médico depois. Outros permitem que você escreva em um diário. Há ainda aplicativos que você escreve em uma conversa com a equipe de saúde o que está sentindo e é atendido rapidamente. E isso é possível não só para sintomas, mas para relatar como está se sentindo psicologicamente (feliz, alegre, cansado, deprimido, triste, nervoso e outros), atividades físicas e diário de alimentação, permitindo que receba orientações específicas quanto a sua rotina.

Parece supersimples, mas sabemos que a maioria das pessoas esquece de relatar quando está bem. Outra coisa é que algumas pessoas preferem não entrar em contato com o serviço de saúde quando estão se sentindo mal, seja porque não querem incomodar, porque acham que não terão suas queixas atendidas ou até porque pensam que não estão tão mal assim. Em boa parte dos casos, o paciente simplesmente não tem acesso à distância da equipe de saúde que cuida do seu tratamento.

Sendo assim, mais do que apenas ter um canal para relatar, é preciso que haja um engajamento, ou seja, utilização frequente do app, tanto do paciente quanto da equipe assistencial, perguntando como aquela pessoa tem passado nos últimos dias. E este é o princípio do sistema proativo, ou seja, aquele em que a equipe de saúde te pergunta periodicamente como está se sentindo e orientando o que pode ser feito para melhorar sua qualidade de vida.

Isso vai fazer com que seus sintomas sejam contornados de maneira mais eficaz e rápida, diminuindo complicações e consequentes visitas ao pronto-socorro.

E como é a experiência com estes aplicativos para pacientes em tratamento contra o câncer e, principalmente, para os que tratam câncer de pulmão? Podemos dizer que é bastante eficaz!

Estudos comprovam a eficácia dos aplicativos para pacientes com câncer

Já temos alguns estudos e, sem sombra de dúvidas, o mais importante deles é o do Dr. Ethan Basch. Em um dos melhores hospitais oncológicos do mundo, o Memorial Sloan Kettering Center de Nova Iorque, o estudo do Dr. Ethan permitiu que metade dos pacientes incluídos tivessem acesso a um portal onde poderiam relatar o que estavam sentindo e, se o sintoma fosse grave ou intenso, recebiam o contato da equipe de saúde. Além disso, semanalmente, estes pacientes recebiam e -mails lembrando -os de acessar o portal e relatar seus sintomas recentes. A outra metade dos pacientes seguiria o acompanhamento padrão sem acesso ao portal.

O resultado foi impressionante, sendo observado pacientes que tinham acesso ao portal viveram cerca de 20% mais tempo que os que não tiveram acesso ao portal. Além disso, houve melhora da qualidade de vida destes pacientes e menor procura ao pronto - socorro. Na discussão do porquê dos resultados encontrados, o Dr. Ethan vê a possibilidade de que os pacientes que têm acesso a equipe de saúde em uma fase que os sintomas e efeitos colaterais do tratamento estejam mais leves tenham eles resolvido mais rapidamente, evitando complicações e permitindo que eles possam tolerar melhor a quimioterapia, o que também leva a manutenção das doses e talvez maior eficácia do tratamento. Vale lembrar que este estudo foi feito ainda sem o uso de smartphones em sua maioria.

A mesma abordagem foi feita especificamente com pacientes com câncer de pulmão que estavam em uma fase estável do tratamento, ou seja, que o tumor não estava crescendo. Pacientes que fizeram uso da ferramenta viveram cerca de 50% de tempo a mais que o grupo que não fez uso da ferramenta.

A hipótese gerada neste estudo é que, os pacientes que tenham melhor acesso a profissionais de saúde têm seus sintomas tratados precocemente e que, caso seja necessária alguma intervenção, ela será tomada antes de aparecerem maiores complicações.

Conheça a WeCancer

A WeCancer nasceu da observação destes estudos. Uma ferramenta que permite que o paciente tenha à disposição enfermeiros, nutricionistas e psicólogos em tempo real, que cuidam da sua jornada e de seu tratamento. Além disso, uma interface fácil para que o paciente possa deixar anotado quando e o que sentiu, para mostrar ao seu médico nas consultas e, assim, ter seu tratamento ajustado e personalizado. E, em parceria com a Astrazeneca, a WeCancer está disponível para qualquer paciente com câncer de pulmão através do Programa FazBem. Saiba mais sobre o programa e se engaje no seu tratamento. Se você é um cuidador de um paciente, o programa também é para você. A sua jornada também é nossa!

 

  Escrito por: Dr Thiago Jorge

Atendimento médico em oncologia clínica. Diretor médico na WeCancer, Coordenador do Setor de Tumores Gastrointestinais e do Programa de Inovação em Oncologia no Hospital Oswaldo Cruz.

 

Referências:
  1. Basch, E., Deal, A. M., Dueck, A. C., Scher, H. I., Kris, M. G., Hudis, C., & Schrag, D. (2017). Overall Survival Results of a Trial Assessing Patient -Reported Outcomes for Symptom Monitoring During Routine Cancer Treatment. JAMA, 318(2), 197. doi:10.1001/jama.2017.7156
  2. Basch E, Deal AM, Kris MG, et al. Symptom monitoring with patient-reported outcomes during routine cancer treatment: A randomized controlled trial. Journal of Clinical Oncology 34:557, 2016
  3. Denis, F., Lethrosne, C., Pourel, N., Molinier, O., Pointreau, Y., Domont, J., … Letellier, C. (2017). Randomized Trial Comparing a Web-Mediated Follow-up With Routine Surveillance in Lung Cancer Patients. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 109(9). doi:10.1093/jnci/djx029
  4. Denis F, Basch E, Septans A, et al. Two-Year Survival Comparing Web-Based Symptom Monitoring vs Routine Surveillance Following Treatment for Lung Cancer. JAMA. 2019;321(3):306–307. doi:10.1001/jama.2018.18085
BR-11785. Material destinado a pacientes. Fev/21