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Vida sexual e o tratamento do câncer de mama

Quando o momento tão esperado do fim do tratamento do câncer de mama chega, também chegam muitas dúvidas. Uma delas, muito comum, porém ainda um tabu, é sobre a vida sexual.

Se você está passando por isso, saiba que ter inseguranças com relação a esse assunto é supernormal, mas não é preciso ter vergonha de falar sobre ele. Por isso, nesse texto, vamos conversar um pouco sobre a sexualidade durante e após o tratamento de câncer de mama.

A primeira coisa que precisamos ressaltar aqui é que aprender a aceitar e se sentir bem com o seu corpo e com seus relacionamentos é uma jornada pessoal e diferente para cada mulher.

Você não deve se comparar ou se forçar a nada, mas ter mais informações pode ajudá-la.

O que acontece no seu corpo durante o tratamento?

A maioria das pacientes recebendo tratamento para câncer de mama é submetida a quimioterapia, que pode causar o início da menopausa precoce e interferir no desejo e atividade sexual.

Além disso, algumas medicações também podem causar disfunção sexual, que pode se apresentar como diminuição no desejo em ter relações sexuais e faltar de excitação.  

Mesmo após o fim do tratamento, estudos mostraram que a disfunção sexual associada aos quimioterápicos pode deixar efeitos de longo prazo. (1)

Portanto, mesmo se você já encerrou o seu tratamento, entenda que o seu corpo passou por fortes transformações e será preciso ter paciência para ele se adaptar.

Como abordar o sexo e a intimidade após o câncer?

Sua saúde sexual após o tratamento do câncer pode ser um assunto muito pessoal e difícil de abordar. Assim como você, muitas mulheres estão passando por isso. É preciso deixar o tabu e o medo de lado e começar a discutir sobre o sexo.

A intimidade sexual é uma parte importante da vida e um elo para construir ou fortalecer relacionamentos.

Vale a pena abordar o assunto antes mesmo do final do tratamento do câncer para que você se sinta confortável o suficiente para identificar as barreiras que possa ter se desenvolvido ao longo do caminho.

Aceitando mudanças físicas

Temos um artigo específico para falar sobre a autoestima durante o tratamento de câncer, mas já vamos adiantar aqui que lidar com mudanças na aparência não é fácil para nenhuma mulher.

A perda de cabelo, ganho ou perda de peso e, especialmente, quando há perda dos seios (mesmo que em parte) podem representar grandes desafios. Além da aparência, com a perda do seio você pode descobrir que o que costumava ser prazeroso, agora não é mais.

Também pode ser que você tenha que lidar com mudanças fisiológicas, como a falta de lubrificação vaginal. Sobre esse assunto, vale conversar com o seu médico e entender o que pode ser feito.

Por isso é tão importante conversar sobre as suas experiências com o seu parceiro ou parceira e entender novas formas de ter prazer no seu “novo” corpo.

Criação de um espaço seguro

Sentir-se vulnerável em um momento como esse é normal, por isso é importante criar um espaço seguro tanto com relação a si mesma, quanto em relação a seu parceiro ou parceira.

Um diagnóstico de câncer pode mudar a maneira como você se sente sobre si mesma, mas é provável que seu parceiro ou parceira não se sinta de maneira diferente em relação a você.

Pode ser que ele ou ela esteja com medo de fazer algo errado, tocar no assunto e piorar a situação. Muitas vezes, pode acontecer de a outra pessoa ter dificuldade em se expressar com palavras. Tenha paciência e tente ajudar a encontrar as palavras certas.

O câncer de mama pode ser uma experiência de crescimento para o casal. Converse com o seu parceiro ou parceira sobre seus receios e deixe que ele ou ela participe da tomada de decisões.

Dê tempo ao tempo

Após cirurgias e tratamentos específicos, pode ser que o seu médico indique um período que você precise ficar sem relações sexuais. Esse tempo pode variar de acordo com o tipo de câncer que você tem/ teve e da cirurgia realizada.

Sempre converse com a sua equipe médica e tenha certeza de que você não está fazendo nada que é contraindicado.

Entenda o seu tempo e não se force a fazer nada que você não queira apenas porque o período recomendado para a recuperação já se encerrou, você precisa estar confortável em voltar a ter relações sexuais para que elas sejam prazerosas.

Procurando ajuda extra

Independente das mudanças que você possa experimentar, é importante buscar apoio e suporte para ajudá-la a lidar com elas. Comece pedindo orientação para seu médico. Ele poderá indicar qual direção seguir.

Aconselhamento de saúde sexual também é uma excelente opção e cria um espaço seguro para você e seu parceiro se conectarem com um profissional especializado nessa área.

Conversar com um especialista pode ajudar a criar uma oportunidade para discutir preocupações e oferecer suporte na retomada de um relacionamento mais íntimo.

Tenha paciência e esteja aberta para conversar tanto com a sua equipe médica quanto com o seu parceiro ou parceira. Quanto mais confortável você estiver, mais fácil, natural e prazerosa será essa jornada.

 

 

 

Referências:
 
  1. Boswell EN, Dizon DS. Breast cancer and sexual function. Transl Androl Urol. 2015;4(2):160-168. doi:10.3978/j.issn.2223-4683.2014.12.04
  2. Shetty MK, Longatto-Filho A. Early detection of breast, cervical, ovarian and endometrial cancers in low resource countries: an integrated approach. Indian J Surg Oncol. 2011;2(3):165-171. doi:10.1007/s13193-011-0082-6
  3. https://www.cdc.gov/cancer/ovarian/basic_info/screening.htm
  4. Cirillo PM, Wang ET, Cedars MI, Chen LM, Cohn BA. Irregular menses predicts ovarian cancer: Prospective evidence from the Child Health and Development Studies. Int J Cancer. 2016;139(5):1009-1017. doi:10.1002/ijc.30144
  5. Parazzini F, La Vecchia C, Negri E, Gentile A. Menstrual factors and the risk of epithelial ovarian cancer. J Clin Epidemiol. 1989;42(5):443-8. doi: 10.1016/0895-4356(89)90134-0. PMID: 2732772.
  6. Biglia N, Moggio G, Peano E, Sgandurra P, Ponzone R, Nappi RE, Sismondi P. Effects of surgical and adjuvant therapies for breast cancer on sexuality, cognitive functions, and body weight. J Sex Med. 2010 May;7(5):1891-900. doi: 10.1111/j.1743-6109.2010.01725.x. Epub 2010 Mar 2. PMID: 20233281.
  7. Bober SL, Recklitis CJ, Michaud AL, Wright AA. Improvement in sexual function after ovarian cancer: Effects of sexual therapy and rehabilitation after treatment for ovarian cancer. 2018;124(1):176-182. doi:10.1002/cncr.30976
  8. https://pinkhope.org.au/sex-and-intimacy-after-cancer/
  9. http://www.oncoguia.org.br/conteudo/imagem-corporal-e-sexualidade-apos-o-cancer-de-mama/1378/266/
BR-11854. Material destinado a pacientes. Mar/2021