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Biomarcadores

Paula Felício - Biomédica, mestre e doutora em Oncologia, Analista de Informações Médicas na AstraZeneca

 Com o avanço da tecnologia e conhecimento sobre diversas doenças, fica evidente que os biomarcadores nos auxiliam na prevenção, diagnóstico e tratamento de diversas patologias. Mas afinal, o que são biomarcadores?

Segundo o FDA (Food and Drug Administration), em conjunto com o NIH (National Institute of Health), biomarcador é considerado "uma característica mensurada como indicador de processos biológicos normais, processos patogênicos ou respostas à uma determinada exposição ou intervenção". Em outras palavras, os biomarcadores são alterações moleculares, celulares ou bioquímicas que podem ser medidos com precisão e repetibilidade para identificar e monitorar processos fisiológicos e patogênicos ou ainda, a resposta a intervenções farmacológicas.

Os biomarcadores podem ser utilizados com diferentes objetivos, desde o diagnóstico de determinada patologia a identificação de potenciais tratamentos, e até mesmo no rastreamento da progressão e regressão da doença após uma intervenção.

 

Variedade de biomarcadores

Há diversos tipos de biomarcadores. Eles podem ser obtidos a partir de amostras de sangue, material tumoral, urina, saliva e até mesmo de imagens de patologia digital e radiologia com agentes de contraste especiais. Outros exemplos de biomarcadores são pressão arterial e glicemia, que atuam como biomarcadores de risco para doença cardíaca e diabetes, respectivamente.

 

Tipos de biomarcadores

Há diversas maneiras de classificarmos os biomarcadores, tais como biomarcadores preditivos e biomarcadores de prognóstico para resposta à quimioterapia em determinado tipo de câncer. Segue, abaixo, a classificação dos biomarcadores segundo os métodos de genética e biologia molecular (ciências da saúde que explica os fenômenos e eventos biológicos sob o ponto de vista molecular). 

  • Biomarcadores tipo 0: também chamados de "biomarcadores de história natural". Esses biomarcadores auxiliam na análise da história natural de uma patologia e se correlacionam ao longo do tempo com indicadores clínicos conhecidos. Um exemplo de biomarcador tipo 0 é a medição da creatinina sérica para avaliar a função renal ou monitorar lesões nos rins.

 

  • Biomarcadores tipo 1: estes são biomarcadores de atividade medicamentosa e indicam o efeito da intervenção do medicamento. Eles podem ser divididos em biomarcadores de eficácia (indicam os efeitos terapêuticos de um medicamento), biomarcadores de mecanismo (fornecem informações sobre o mecanismo de ação de um medicamento) e biomarcadores de toxicidade (indicam os efeitos toxicológicos de uma droga). Exemplos de biomarcadores do tipo 1 incluem o nível de glicose no sangue (biomarcador de eficácia) para monitorar os efeitos do tratamento com insulina e a análise de citocinas (biomarcador de mecanismo) em doenças autoimunes, como artrite reumatoide.

 

  • Biomarcadores tipo 2: são marcadores "substitutos" que atuam como alternativas de avaliação para um desfecho clínico de uma doença e ainda, ajudam a prever o efeito de uma intervenção terapêutica. Esses marcadores podem se correlacionar com desfechos clínicos, mas é importante destacar que podem não ter uma relação garantida. Um exemplo é a potencial relação do colesterol com a doença cardíaca, em que os níveis elevados do biomarcador estão correlacionados ao aumento do risco de doença cardiovascular. Entretanto, é importante lembrar que nem sempre essa relação está presente, pois também depende de outros fatores.

 

Características de um biomarcador ideal

O "biomarcador ideal" existe? Quais características um biomarcador deve possuir para torná-lo próximo do ideal? Segundo o FDA, é considerado um biomarcador ideal aquele que apresente as seguintes características:

  • ser seguro e de fácil mensuração,
  • ser rápido, para otimizar o processo de diagnóstico,
  • apresentar custo-benefício viável,
  • capaz de gerar resultados precisos e reprodutíveis,
  • ser consistente, independentemente do sexo e etnia, e
  • ser específico para uma determinada patologia e capaz de diferenciar entre diferentes estados fisiológicos.

 

Biomarcadores: descoberta e desenvolvimento de medicamentos

A descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos é um processo árduo e complexo. No entanto, a identificação de biomarcadores confiáveis ??pode ajudar na descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos, especialmente durante as fases iniciais da doença. Através dos biomarcadores, é possível identificar potenciais alvos terapêuticos por meio da identificação de vias moleculares e genes envolvidos na patologia. Além disso, os biomarcadores também são extremamente essenciais em estágios posteriores do desenvolvimento de medicamentos e, em geral, são usados ??durante os ensaios clínicos para avaliar a resposta aos tratamentos.

 

Em resumo, os biomarcadores desempenham um papel fundamental na elucidação dos processos biológicos fundamentais da biologia humana, no entendimento das patologias e no desenvolvimento de novos medicamentos e, dessa forma, transformam os resultados da pesquisa clínica em aplicações práticas na medicina e saúde pública.

 

Referências
US Food and Drug Administration (FDA). Biomarker Qualification Program. Acesso disponível em: https://www.fda.gov/drugs/drug-development-tool-ddt-qualification-programs/biomarker-qualification-program
FDA-NIH Biomarker Working Group. BEST (Biomarkers, EndpointS, and other Tools) Resource [Internet]. Silver Spring (MD): Food and Drug Administration (US); 2016-. FDA-NIH Biomarker Working Group. 2016 Jan 28.
Sahu P, Pinkalwar N, Dubey RD, Paroha S, Chatterjee S, Chatterjee T. Biomarkers: An Emerging Tool for Diagnosis of a Disease and Drug Development. Asian J Res Pharm Sci 1: 9-16, 2011.
Kaplan JM, Wong HR. Biomarker discovery and development in pediatric critical care medicine. Pediatr Crit Care Med. 2011;12(2):165-173. doi:10.1097/PCC.0b013e3181e28876
Robinson WH, Lindstrom TM, Cheung RK, Sokolove J. Mechanistic biomarkers for clinical decision making in rheumatic diseases. Nat Rev Rheumatol. 2013;9(5):267-276. doi:10.1038/nrrheum.2013.14
 
 
BR-18325. Material destinado a todos os públicos. Nov/2022