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Saúde Mental e Valorização da Vida: O Laço de Esperança "Toda Vida Importa"

Todos os anos há uma diversidade de informações e divulgações sobre a Campanha Setembro Amarelo que tem como objetivo dar visibilidade ao problema de saúde pública que é o Suicídio. Embora entendamos a relevância da Campanha, não podemos deixar de reforçar que ocorrências de Comportamento Suicida são notificadas durante todo o ano, inclusive, há estudos que denotam que a prevalência de casos é maior no final do ano, em consequência das festas e dos sentimentos de mudança de ciclo. Outro fator importante a se considerar é o aumento de casos mediante a conjuntura atípica que temos vivido em decorrência da Pandemia. Alguns exemplos de situações disparadoras neste contexto: perda de familiares e pessoas próximas, medo do futuro, sobretudo econômico, perda do trabalho e dificuldades financeiras etc. Logo, mesmo que o mês correspondente já tenha passado, a reflexão sobre o comportamento suicida é extremamente importante.

Neste artigo vamos refletir de maneira resumida algumas questões a este respeito. Vamos lá?

Como surgiu a Campanha do Setembro Amarelo?

Em 1994, um jovem americano chamado Mike Emme cometeu suicídio aos 17 anos de idade. Com uma personalidade agradável a todos, Mike era conhecido por suas habilidades mecânicas, tendo restaurado um Mustang 68 e o cromatizado de amarelo. Para os familiares e amigos, Mike não emitia sinais de que pretendia cometer suicídio e sua morte abalou a todos. Durante o funeral, os amigos resolveram realizar um ato: montaram uma cesta de cartões e fitas amarelas com a seguinte mensagem: “Se precisar, peça ajuda! ” A partir daí diversos jovens começaram a utilizar estes cartões, solicitando ajuda e apoio emocional ao ponto desta ação tomar proporções inesperadas e se espalhar por todo o País. Logo o laço amarelo se tornou um símbolo. Em 2003 a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio: 10 de Setembro.

O que é o Comportamento Suicida?

O Comportamento Suicida é algo complexo e multifatorial. Engloba a ideação suicida, as tentativas de suicídio e o ato do suicídio. Segundo estudos, para cada suicídio, 25 pessoas fazem as tentativas e uma outra infinidade possui pensamentos suicidas o que chamamos de ideação. 

O comportamento suicida é o resultado de um sofrimento existencial muito intenso. Geralmente, a pessoa que emite este tipo de comportamento entende que não há escolhas, ou que já não há mais sentido em sua existência. Entra-se num processo autodestrutivo, na busca de acabar com suas dores emocionais, problemas ou situações que o indivíduo pondera não haver outra saída a não ser sua própria finitude.

A cada ano, 800 mil pessoas se suicidam em todo o mundo e, segundo a OMS esta é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

No Brasil, em 2016, foram registradas mais de 11 mil mortes por suicídio, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. O número representa cerca de uma morte a cada 45 minutos e a maior taxa de vítimas é representada por homens jovens. Segundo o CVV (Centro de Valorização da Vida) são 32 brasileiros que se suicidam por dia.

Quais são os fatores de risco?

Podemos elencar como alguns fatores de risco para o comportamento suicida: a depressão e outras doenças mentais, histórico familiar ou de tentativas, lutos recentes ou mal elaborados, uso abusivo de álcool e outras drogas, redução de vínculos afetivos familiares e sociais, comorbidades terminais ou incapacitantes, bullying, desemprego, estresse, traumas provenientes de abusos, baixa autoestima, dentre outros.

 

Como ajudar, mediante a possíveis casos?

* Preste atenção nos sinais

Uma das grandes dificuldades nos dias atuais são as pessoas serem vistas e ouvidas. Como já fora dito no início, o comportamento suicida é um processo e geralmente as pessoas dão sinais de que estão adoecendo emocionalmente. Nunca interprete esses sinais como nada, ou algo para chamar a atenção. Mudanças bruscas de comportamento, falas como: ” Minha vida não tem sentido” ou, “Não quero mais viver” precisam de atenção e denotam que a pessoa necessita de ajuda.

* Ouça com atenção, livre de julgamentos.

Ouça mais, exercite a empatia, não tenha pressa em falar mas em ouvir e tentar compreender sob a ótica da pessoa o sofrimento emocional que ela está vivenciando. Não julgue e evite frases no senso comum como; “isso é besteira” ou, “logo passa, já passei por coisas piores”. Lembre-se: a resiliência e a capacidade de superar as questões angustiantes são singulares, logo, não é possível mensurar a dor do outro a partir de nossas experiências pessoais.

*Tome atitudes concretas.

Uma pessoa acometida de depressão e comportamento suicida na maioria das vezes não consegue ter motivação para questões básicas como: sair da cama, realizar sua higiene pessoal, se alimentar. Como poderia então ir a uma Unidade de Saúde ou Serviço Especializado para buscar ajuda? Incentivar essas pessoas é meritório, contudo, em alguns casos é necessário tomar a atitude por elas e conduzi-las ao tratamento. A Rede Informal, como chamamos, é muito importante, seja através de familiares ou amigos próximos para que o suporte e manejo do adoecimento seja acompanhado de forma assertiva.

 

Em tempo:

Não podemos banalizar ou tentar restringir a dor do outro ou a nossa própria dor.  Julgamentos, condenações, opiniões ou até mesmo frases como: “é só pensar positivo que vai dar tudo certo” não contribuem com um tratamento adequado para quem sofre com os padecimentos emocionais. Fazer constantemente a reflexão a respeito do nosso autocuidado, nossos afetos, ânimos e motivações também contribui para a nossa saúde mental e emocional.

Se você conhece alguém que esteja passando por estas questões, não se omita e nem permita que este assunto seja um Tabu. Procure ajuda especializada o quanto antes.  

Tem um recomeço nos esperando, sempre que for necessário! 

 

Onde buscar ajuda:

CVV – Centro de Valorização da Vida

Site: www.cvv.org.br

Disque CVV – 188

 

UBS – Unidades Básicas de Saúde

 

CAPS (Centro de Apoio Psicossocial)

Em caso de risco de suicídio iminente, ligar para 190 ou 192 e solicitar atendimento.

 

Sérgio Medeiros Aguiar

 

 

Referências Bibliográficas:
Associação Brasileira de Psiquiatria. Suicídio: Informando para Prevenir. CFM: 2014